sábado, 8 de julho de 2017

Prefácio de 1.095 páginas


Hoje resolvi reativar meu blog por 1.095 razões e motivos. Talvez difícil enumerá-las num único texto, mas prometo tentar se permaneceres atento parágrafo por parágrafo, letra por letra. A correria do dia-a-dia tem me tirando o sabor de muita coisa: do ficar jogado no sofá sem ter que olhar a agenda com os compromissos; do saborear uma comida com muito carboidrato sem ter que lembrar das quintas-feiras e as benditas medições da nutricionista; do prazer de ir ao cinema semanalmente sem poder faltar alguma aula do curso de graduação; do prazer de escrever sem precisar me preocupar com concordâncias, pontuações e linguística que vem carregada de notas. Hoje então, resolvi apenas escrever ao som de uma música que me remete a um filme e que este filme me remete a minha história. Então, ao som de Carla Bruni decido saborear "Quelqu'un m'a dit" e entender porque um filme e uma letra tem tanta semelhança com a história que vivo: 1.095 dias com ele. Não entendo absolutamente nada em francês, mas pela primeira vez a tradução de uma música parece encaixar perfeitamente (mais uma vez) com a minha vida. Oh semelhanças, nada além de coincidências. 

"Disseram-me que as nossas vidas não valem grande coisa, elas passam em instantes como murcham as rosas; disseram-me que o tempo que passa é um desgraçado; que das nossas tristezas ele faz seus casacos; disseram-me que o destino debocha de nós; que não nos dá nada e nos promete tudo; faz parecer que a felicidade está ao alcance das mãos; então a gente estende a mão e se descobre louco."

E não é que a música tem razão? Aliás, somos movidos e embalados por tantas músicas que percebemos que no fundo todos que escrevem tem de fato razão: a vida é realmente um trem bala parceiro! A sensação que tenho hoje é que esses 1.095 dias (três anos) parecem 3.650 dias (dez anos) de muitas coisas boas, algumas ruins. Muitos sorrisos, alguns choros. Muitas conversas, discussões. Muitos arrepios, muitos sonhos, medos, angústias, indecisões, decisões, alegrias, tristezas, muito carinho, alguns puxões, muita sintonia corporal, sentimental, emocional. São tantas coisas iniciadas naquela tarde de 06.07.2014 pontualmente às 13 horas e 38 minutos quando a primeira mensagem chegou no meu celular com duas letras: "Oi".

De lá para cá tenho quase certeza que nunca mais nos desgrudamos. Tentei. Ele tentou. Tentamos. Mas todas tentativas foram em vão. Talvez nesse momento eu percebi que o trecho da música francesa estivesse errando conosco: nossas rosas não murcharam, portanto, o amor também não murchou. As lembranças vivem acesas na minha memória do primeiro, do segundo e da sucessão de encontros seguintes, assim como o "moleton" que a gente carrega como se fosse a prova desse crime que cometemos chamado de amor.

Certa vez ouvi de uma amiga que o barato das relações está justamente em lembrarmos mais das coisas boas do que das tristes que passamos... que o passar dos dias nossa memória fixa exatamente aquilo que de fato serve e vale, os tropeços, as mágoas, as desavenças, as brigas, servem apenas para fortalecer o que de verdade existe, afinal, precisamos estender as mãos, os braços, o corpo, a alma, o coração e deixar a felicidade entrar com o que há mais de puro e verdadeiro, o que a gente não sabe explicar, talvez não saiba falar, mas sabe sentir.

Nessa jornada de 1.095 dias percebi que nossa história daria um bom filme, livro... gênero? por vezes um filme dramático, em outros romântico, em outros ainda pornô, outras vezes uma comédia, mas uma coisa é certa: nosso filme não tem nada de ficção. Por mais que ele tenha nascido exatamente da vontade subjetiva que temos do sonho de encontrar um grande amor, a busca por alguém que te queira e te entenda, a imagem do príncipe encantado - que nem sempre é tão encantado assim, mas isto também faz parte do clichê - a vontade de ser feliz. 

Todos que já passaram por algum tipo de relacionamento se reconhecerão nessa história, nem que seja por um momento apenas, como em um filme ou numa música. Do primeiro olhar até a dificuldade em se declarar. Das tentativas de aproximação até o início do relacionamento. Do encantamento da paixão à rotina e seu inevitável desgaste. O que fazer para mantê-lo. O que fazer para superá-lo. Como agir nos reencontros, quando há um resquício de sentimento envolvido. A fase down, quando tudo parece desmoronar e não há motivação para mais nada na vida. Ah, o dia seguinte.

A resposta, obviamente, não está neste texto. Não está em lugar algum, para falar a verdade. Ninguém sabe o porquê das pessoas se apaixonarem umas pelas outras e o que de especial acontece para que este sentimento brote exatamente por aquela pessoa e por mais nenhuma outra. Ele simplesmente acontece. Exatamente isto é aqui retratado: todo o ciclo de quem se apaixona, do céu ao inferno, da felicidade extrema à vontade de que tudo acabe.

A bem da verdade, encerro este primeiro capítulo aqui, mas a história continua a ser escrita na busca por um final feliz como nos grandes livros e filmes, afinal já que estendemos as mãos e nos encontramos, não faz mal que nos chamem de loucos por querer ir mais além.